Quando se pensa em consumo, vem logo à cabeça o ato de comprar produtos. Mas a compra é apenas um dos aspectos. Do momento em que acordamos até a hora de dormir, várias atitudes de consumo são realizadas: usamos água para lavar o rosto, escovar os dentes e tomar banho, comemos os alimentos do café da manhã, gastamos combustível do transporte para ir e voltar da escola ou do trabalho, acionamos energia para ligar os eletrodomésticos e tantas outras ações realizadas ao longo de um dia.
Os impactos dessas atitudes de consumo são considerados “pegadas ecológicas”. Quanto mais se explora o meio ambiente, maior será a marca deixada na Terra. Segundo o relatório Planeta Vivo 2008, da Rede WWF publicado em outubro de 2008, se o modelo atual de consumo e degradação ambiental não for superado, é possível que os recursos naturais entrem em colapso a partir de 2030.
Hoje a humanidade já consome 25% a mais de recursos naturais do que a capacidade de renovação da Terra. Se os padrões de consumo e produção se mantiverem nos níveis atuais, em menos de 50 anos serão necessários o equivalente a dois planetas Terra para atender as necessidades de água, energia e alimentos.
Por que comprar?
Consumir de forma consciente tornou-se algo fundamental para a sobrevivência da vida na Terra. O Instituto Akatu, ONG com sede em São Paulo, tem a missão de educar e mobilizar a sociedade para essa temática. De acordo com a coordenadora da área de capacitação da organização, Raquel Diniz, o primeiro passo para uma postura mais consciente é refletir sobre os próprios processos de consumo. Fazer a si mesmo as perguntas: por que comprar, o que comprar, de quem comprar, como comprar (se vou pagar à vista ou à prazo, de um lugar próximo ou longe de casa, por internet, por exemplo), e como vou usar e descartar esses produtos.
“Os jovens representam 26% da população brasileira, ou 48 milhões de pessoas entre 15 e 19 anos. Por isso, o Instituto Akatu os reconhece como um público fundamental para seu trabalho de sensibilização e mobilização para o consumo consciente”, afirma Raquel Diniz.
Em 2007, o Instituto Akatu avaliou na pesquisa Como e por que os brasileiros praticam o consumo consciente, a consciência do consumidor a partir da adesão ou não a 13 comportamentos, entre os quais fechar a torneira ao escovar os dentes, desligar aparelhos eletrônicos quando não está usando, separar lixo para reciclagem ou comprar produtos orgânicos. O estudo revelou que entre os consumidores brasileiros, 5% são conscientes (adotam entre 11 e 13 comportamentos), 28% são engajados (entre 8 e 10), 59% são iniciantes (entre 3 e 7) e 8%, indiferentes (praticam no máximo 2 comportamentos).
Discurso X prática
De acordo com Raquel Diniz, o perfil de consciência dos jovens entre 18 e 29 anos é praticamente igual ao da população em geral, embora haja um número um pouco maior de indiferentes e um pouco menor de engajados nessa faixa. Ela destaca que várias pesquisas do Akatu revelam ainda uma realidade interessante: é mais fácil as pessoas aderirem a valores relacionados à preservação ambiental do que praticarem os comportamentos do consumo consciente. Nessa pesquisa, das 38 perguntas referentes a valores, 31 foram assimiladas pela população, que respondeu positivamente às questões. Das 42 perguntas relacionadas a comportamento, apenas sete tiveram adesão positiva.
A pesquisa mostra que entre os mais facilidade em realizar atitudes mais básicas, como economizar água ou energia elétrica, pois isso não interfere no conforto do seu cotidiano. "Quando se fala em deixar de comprar uma roupa de grife ou o último modelo do iPod, é mais difícil. Para estreitar essa lacuna entre valores e comportamentos, precisamos discutir com os jovens que mundo eles querem construir e no qual querem viver. É nessa perspectiva que o Akatu trabalha — repensar a visão de mundo, que nos leve a repensar o modelo de consumo.”, aponta a coordenadora.
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